terça-feira, 28 de abril de 2015

CAMARÃO MELADO

Era este o método utilizado para a conserva do camarão, de outros mariscos e bivalves nos meados do séc. XlX até aos inícios do séc. XX, trazido pelos pescadores e outros habitantes das zonas do litoral de Goa (India Portuguesa), aquando da sua migração para a então colónia de Moçambique. O meu contacto com os descendentes dessas populações remonta da minha infância, com as ex-colegas da minha mãe da escola da Munhuana em Lourenço Marques atual Maputo, proporcionando-me a degustação de determinados sabores, tendo em conta o facto de me sentir atraído pelos paladares e odores das especiarias exóticas e sobretudo pela sua confeção, dentro do que se pode entender de culinária Moçambicana ou de fusão.
Depois deste breve e saudável devaneio eis-me de volta ao camarão, afinal a nossa estrela de eleição.
Para 1,500 g de camarão com casca cal.30/40, necessitamos uma vez mais das nossas especiarias:

2 colheres sopa de Coentros moídos.
1 colher de sopa de Cominhos moídos.
1 colher de sopa de Colorau.
1 colher de chá de Açafrão das Índias.
Sal e Pimenta q.b.

Começamos por amanhar o camarão, que consiste em cortar a cabeça acima dos olhos, tirar a casca e reservar a ultima secção em conjunto com o rabo. Com
uma faca de cozinha, faz-se uma incisão nas costas retirando-se a “tripa” e o saco (estômago) na cabeça, colocando-se depois numa tigela temperando com sal e sumo de limão, deixando-os a marinar. De volta ao tacho, picam-se 3 cebolas grandes e 3 alhos e de seguida refoga-se em 4 a 6 colheres de sopa de óleo até ficar com um aspeto caramelizado, adicionando-se 6 tomates e 4 colheres de sopa de açúcar mascavado, deixando apurar no mínimo 30 minutos ou mais, até ficar com um aspeto de melaço. Neste intervalo adiciona-se aos condimentos secos, 6 colheres de sopa de vinagre (eu prefiro o de arroz) de modo a ficar uma pasta e junta-se ao refogado, mexendo sempre para que fique tudo integrado e de seguida adiciona-se ½ litro de água e apura acrescentando água de vez em quando. Ao fim de mais ou menos 2 horas, junta-se o camarão e deixa-se cozinhar por mais 30 minutos, retirando-se de seguida do lume.
Em regra, depois de frio este molho juntamente com os camarões, eram acondicionados em grandes frascos, conforme a quantidade de marisco adquirido, selados com óleo alimentar e depois cuidadosamente tapados e guardados num local escuro e fresco, como de uma conserva caseira se tratasse, colmatando a falta de frigoríficos.
Este tipo de alimento era servido sobre arroz branco ou de coco quente normalmente em situações de emergência.

Boas culinárias e bom apetite!

3 comentários:

  1. Não tem a ver com o chamado balchão?

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    1. Não, isto não é Balchão. Nem o Balchão é um caril, é sim uma conserva caseira que até se pode guardar em frasco e tem o tempero não é esse. Eu aprendi com a minha avó goesa.

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  2. Olá Zé, tanto quanto sei o balchão é um caril com origens em Macau e adaptado à moda Goesa e relativamente ao camarão melado, não era mais que uma saída airosa para a conserva dos mariscos. Abraço!

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